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Débora - Capítulo 06


Débora
CAPÍTULO 06

uma novela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

baseada nos capítulos 3 a 5 do livro de Juízes

 No capítulo anterior: Elian diz a Misael que Lapidote não é bom o suficiente para Débora, e o outro fala de conversar com o filho para que os dois separem, porém Elian não aceita, e ameaça incitar os filisteus contra eles caso não partam de Betel. Débora se pergunta se Lapidote mudaria depois do casamento, mas Tamar diz acreditar que ele é genuinamente um bom rapaz. Ao descobrir que Elian quer que ele e seu pai vão embora, Lapidote se revolta e tenta ir se despedir da namorada, porém Elian não permite. Segurando o cordão com a semente de tamareira, Débora torce para que esteja tudo bem com Lapidote. Na manhã seguinte, Débora come rápido e vai atrás do namorado. Os filisteus chegam à cidade. Sangar diz a Jaziel que precisam fazer algo, formar um exército e lutar. Jaziel diz que precisam é de um novo juiz. O Comandante filisteu anuncia que se faltar uma única moeda do imposto, Sangar e Jaziel perderão a cabeça. Consternado, Lapidote não consegue ir atrás de Débora, e parte com seu pai. A garota, junto ao povo, nota os dois, ludibria um soldado e corre. Alcançando-os, ela pergunta para onde estão indo e o que aconteceu, mas Misael diz para Lapidote não falar nada caso a ame. Ao ver o soldado perseguindo-os, Misael acelera e Lapidote grita para Débora que voltará, que ela o espere e que a ama. Apesar de ele pedir, Débora não consegue dizer que o ama, e o soldado a leva de volta. Mesmo os impostos estando certos, o Comandante chicoteia Sangar, Jaziel e Débora. Tamar se desespera. Sangar diz ao Comandante que a hora dele vai chegar, e o filisteu cospe em seu rosto; logo vão embora. Arrasada com a partida do namorado, Débora desaba a chorar no ombro da mãe, e o pai diz que ficará tudo bem.
FADE IN:

CENA 1: EXT. BETEL – RUA – DIA
De volta às ruas, Débora, junto aos seus pais, conversa com Sangar e Jaziel, esse menos ferido que o outro.
DÉBORA
Jaziel, por favor, me ajude! Me acompanhe! Preciso ir atrás de Lapidote! Ele saiu com o pai não faz muito tempo!
TAMAR
Débora, já disse que não! Os filisteus podem estar por perto ainda!
ELIAN
Eles estão em todos os lugares.
DÉBORA
Mas os dois foram embora, e sem explicar nada! Lapidote nem mesmo se despediu de mim! Eu estou desesperada, eu... eu não sei o que aconteceu! Preciso entender, será que ninguém compreende?!
Jaziel fica um tanto dividido.
DÉBORA
Não posso deixar que partam sem nenhuma explicação!
TAMAR
Débora, eles devem ter seus motivos!
DÉBORA
E é isso que eu quero saber! O que os levou a fazer isso?! (pequena pausa) Por favor, mãe! Por favor!
Tamar respira fundo...
TAMAR
Tudo bem. Mas desde que não vá muito longe!
Não concordando, Elian balança a cabeça.
ELIAN
(para Jaziel) Proteja-a. Não deixa que ela, no calor da emoção, faça alguma besteira.
Débora encara o pai, claramente não gostou do que ele disse.



CENA 2: EXT. DESERTO – DIA
Jaziel cavalga pelas paisagens israelenses carregando, atrás de si, Débora. Passam por campos, paisagens áridas, morros, vales, rios...
DÉBORA (NAR.)
Com a ajuda de meu amigo Jaziel, passei os 3 dias seguintes à procura de meu primeiro e grande amor. A cada dia cavalgávamos mais distante e por terras mais desconhecidas. Porém, os poucos sinais que encontramos ou eram confusos demais, ou se perdiam com o vento.
Parados em pé no alto de um desfiladeiro, Débora e Jaziel encaram o horizonte distante com semblante de derrota.
JAZIEL
Fizemos tudo que era possível, Débora. Eu sinto muito, mas está na hora de voltar para casa.
DÉBORA
(triste) Tudo bem.
Tocado, ele se aproxima e a abraça.
JAZIEL
Eu vou orar por eles. E vai ficar tudo bem.
DÉBORA
(olhos marejados) Obrigada.
Eles se soltam e caminham de volta para o cavalo. É quando Jaziel parece escutar um barulho.
JAZIEL
O que é isso?
DÉBORA
(parando) O quê?
JAZIEL
Não ouviu?... Parece... que veio de lá...
Ele aponta para um paredão de pedras com algumas fendas e vai até lá; ela o acompanha.
Ao chegar no paredão, Jaziel apoia as mãos e olha por um dos buracos: seus olhos arregalam e ele quase desequilibra.
DÉBORA
O quê? O que você viu, Jaziel?!
Débora então olha: atrás do paredão, num terreno mais baixo, há um grande acampamento montado. Tendas de tamanho comum estão armadas ao redor de uma central e maior que todas. O que também impressiona a garota são os habitantes: soldados!
DÉBORA
Meu Deus, são os filisteus!
JAZIEL
Shh! Podem nos ouvir...
Jaziel olha com mais atenção.
DÉBORA
Por que é que os filisteus estão acampados aqui?! Em nossas terras!...
JAZIEL
Fale baixo, Débora...
Débora não entende. Jaziel então olha para ela.
JAZIEL
Provavelmente montaram uma base aqui... por ser mais fácil para recolher os impostos das cidades dessa região.
DÉBORA
Será?...
JAZIEL
Bom, pode também ser para mais coisas... Para nos intimidar... Quantos devem haver aí?
Eles então olham e tentam fazer uma contagem grosseira.
JAZIEL
Bom, somando com o lado que você contou, e considerando mais um por tenda, deve haver nesse acampamento uns 500 homens.
Débora olha de novo para o acampamento através do buraco na rocha.
DÉBORA
Se todo o povo de nossa tribo Efraim se juntasse, poderíamos derrota-los.
JAZIEL
Não sei... Eles são muito bem treinados, respiram guerra desde jovenzinhos.
DÉBORA
Se as outras tribos se unissem a Efraim, assim como era nos tempos de Moisés e Josué, poderíamos sim vencê-los, ainda que inferiores militarmente. E se tivéssemos um período de tempo para treinarmos, não tenho dúvidas de que a vitória seria nossa.
Jaziel fica pensando.
DÉBORA
E, maior do que tudo isto, Jaziel, é o nosso Deus. Se Ele estivesse conosco, poderíamos acabar com os nossos opressores assim como todos os juízes anteriores acabaram com os algozes de suas épocas.
JAZIEL
Na minha opinião precisamos é justamente de um novo juiz. Desde que Eúde morreu ninguém se manifestou. O Senhor ainda não levantou  nenhum. Quando temos um juiz, nós nos voltamos para Deus mais facilmente.
DÉBORA
Bom, só nos resta pedir a Deus para que levante esse novo juiz. Mas, enquanto isso não acontece, podemos montar e treinar um exército! Em alguns meses poderíamos ter força o suficiente para acabar com todos os filisteus.
JAZIEL
Teríamos que marchar até Gaza, a capital filisteia?
DÉBORA
Não. Essa deve ser a base deles na opressão. Se destruirmos esse acampamento e derrotarmos esses homens, a dominação acabará.
Eles se olham, sentem o peso da possibilidade levantada por ela.
Então se levantam e saem.

CENA 3: INT. CASA DE TAMAR – COZINHA – DIA
O dia passa, a noite vem e amanhece um novo dia.
Elian chega devagar à cozinha onde Débora está sovando uma massa de pão.
ELIAN
Débora...
Débora o olha rapidamente e continua o seu trabalho.
ELIAN
Eu... Eu sinto muito... Lapidote era um bom rapaz, mas... talvez ele não fosse bom o suficiente para você...
DÉBORA
Por que está dizendo isso?
ELIAN
Um bom rapaz não a abandonaria dessa forma, Débora.
DÉBORA
Deve haver um motivo. Aliás, ! Misael não permitiu que Lapidote falasse. Eu só não consigo imaginar o que poderia ser... Até o dia anterior estava tudo bem. Quase tudo, na verdade, pois nesse dia ele já não veio me ver...
ELIAN
O melhor que você pode fazer agora é esquecer, tentar não pensar. O tempo dará jeito de apagar isso. E um dia você vai se encantar novamente por outro rapaz de Betel.
DÉBORA
(sovando a massa e ignorando seu pai) Isso não deve ter a ver com Lapidote, mas com algum problema envolvendo o senhor Misael. Quem sabe até com os filisteus. Ele já veio fugindo da opressão... Se bem que nada encaixa com nada. Não sei, é frustrante! Vou é orar para ser consolada, mas não vou deixar de pensar no meu namorado.
ELIAN
Débora, você não pode mais trata-lo como namorado. Acabou.
Débora então para de sovar a massa e encara o pai.
DÉBORA
O senhor gosta disso? De saber, de falar isso?
ELIAN
(fingindo tristeza) Não. Se a faz triste, também me faz.
Nesse instante Tamar desce a escada.
TAMAR
Débora ainda não está pronta?
ELIAN
(para Débora) O horário que você combinou com o povo já está dando.
DÉBORA
Hum.
Débora guarda a massa e limpa as mãos. Elian se aproxima.
ELIAN
Débora, quero que saiba que eu concordo com você. Precisamos mesmo montar um exército e lutar contra os filisteus!
Débora faz que sim discretamente.

CENA 4: EXT. BETEL – PRAÇA – DIA
Há um bom número de hebreus ali na praça central da cidade. Comerciantes das ruas ao redor aproveitam para anunciar seus produtos. Enquanto isso, Sangar, que está com Jaziel, passa a mão em um ponto de sua costa.
SANGAR
Bem aqui é onde mais incomoda...
JAZIEL
Minha costa está toda dolorida... Ahn, só espero que Débora chegue logo.
SANGAR
O que será que essa menina quer anunciar a todo o povo?
JAZIEL
Eu sei o que é. Estávamos juntos quando ela viu.
SANGAR
“Viu”?
Jaziel olha para o lado: Débora está chegando com Tamar e Elian. O povo para de conversar entre si e olha para ela.
DÉBORA
Shalom! Shalom a todos...
ALGUNS
Shalom.
DÉBORA
Primeiramente gostaria de agradecê-los por terem atendido o meu pedido e vindo até aqui. Sei que todos tem suas ocupações, mas prometo ser rápida. O assunto é de muita importância.
O povo a olha atento.
DÉBORA
Apesar de minha pouca idade, eu sinto a opressão dos inimigos como todos e sei da necessidade que temos de liberdade, assim como vínhamos tendo há 80 anos até os filisteus nos dominarem. E, se olharmos para trás, para as épocas dos juízes anteriores, só há duas formas de nos libertamos: a primeira: abandonando os ídolos, a ociosidade, voltando para o Deus único; e a segunda: (pequena pausa) lutando. Se a primeira coisa for feita, a segunda terá sucesso.
Um burburinho surge entre as pessoas e começa a aumentar. Alguns começam a falar mais alto, a rir...
HOMEM
Vai brincar, menina!
HOMEM 2
Isso mesmo, vai correr com seus amiguinhos!
Outros riem. Débora fica um tanto nervosa.
DÉBORA
(alto e firme) Enquanto vocês achavam que eu estava brincando, eu cavalgava até uma terra distante, onde encontrei algo que jamais poderia imaginar: um acampamento filisteu!
Mais murmúrios...
DÉBORA
Meu amigo Jaziel está aí e pode confirmar!
HOMEM 3
Mentira! Estavam era brincando! Ou criando histórias fantásticas! Coisas de crianças!
DÉBORA
Eu entendo que os filisteus sempre nos fizeram acreditar que sua capital Gaza é uma verdadeira fortaleza, com muros intransponíveis, armada até os dentes! Mas sua maior força atualmente está em um mero acampamento, onde há pouco mais de 500 homens.
Murmúrios mais contidos...
DÉBORA
Apesar de eles estarem armados, nós podemos nos juntar com as outras cidades! Gezer, Ai, Afeque... Se não for suficiente, podemos chamar outras tribos! Judá, Dã, Benjamim, Manassés! Um grande exército! Milhares de homens contra 500, 600 filisteus no máximo!
HOMEM
600 filisteus armados e tudo o que temos são paus e pedras!
DÉBORA
Nós temos o maior poder que o universo poderia ter: Deus!
Com raiva, algumas pessoas viram as costas e vão embora. Outros, rindo com zombaria, também saem.
HOMEM 2
Menina, pare de desperdiçar o nosso tempo. Vai brincar, vai...
E sai.
MULHER
Menina da sua idade tem é que trabalhar! Ajudar a mãe! Treinar pra cuidar da casa quando se casar! E cuidar do marido!
A mulher, seguida de outros, deixa a praça.
SANGAR
(para Jaziel) Sua amiga tem razão, sabe? Tem toda a razão. Podemos treinar por um tempo e depois ir com tudo contra os filisteus.
Porém, o povo todo dali vai embora. Alguns ainda bradam palavras de ofensa contra a garota.
ELIAN
(intervindo) Chega! Chega!
DÉBORA
(para o povo indo embora) Vocês precisam querer a liberdade!!!
Elian e Tamar se aproximam mais.
TAMAR
Não adianta, minha filha...
ELIAN
Não querem escutá-la.
DÉBORA
(para Jaziel) O que eu preciso dizer para convencê-los?! Nem sofrendo querem reagir!
Os únicos que ficam ali com Débora é Tamar, Elian, Jaziel e Sangar. Todo o restante vai embora.

CENA 5: EXT. ACAMPAMENTO FILISTEU – DIA
Um soldado caminha ao lado do Comandante pelo acampamento.
COMANDANTE
Eu não vou conseguir esperar até o próximo mês para me divertir com aquele hebreu, (enojado) tal de Sangar... Ele merece uma outra boa lição, e logo!
Ele para e encara o soldado.
COMANDANTE
Esse maldito hebreu é um pastor, mora no lado de fora da cidade. Vá até sua propriedade e queime parte de seus bens. E faça questão de ser visto pelo hebreu! Que ele saiba que foi um de nós!
SOLDADO
Entendido, senhor!
COMANDANTE
Vá!
O soldado faz uma pequena reverência e sai apressadamente. O Comandante fica ali, já se divertindo ao imaginar o acontecimento.

CENA 6: INT. CASA DE TAMAR – COZINHA – NOITE
A noite cai...
Tamar, Elian e Débora estão ajoelhados e de olhos fechados ao redor da mesa; ele está apresentando a refeição em oração.
ELIAN
...até o dia de amanhã. Amé--
DÉBORA
(interrompendo) Também pedimos, Senhor, que possa amolecer o coração duro desse povo. O Teu povo! Que eles possam voltar aos Teus caminhos e terem ânimo para lutarem pela liberdade conquistada pelos nossos antepassados... Amém.
ELIAN, TAMAR
Amém.
Eles abrem os olhos e se levantam. Os pais se entreolham, e ela senta para comer.

CENA 7: INT. CASA DE SANGAR – COZINHA – NOITE
Próximo da muralha de Betel, no lado de fora, há uma pequena casa cujas portas e janelas estão abertas. Uma claridade aconchegante vem de dentro.
Sentado sozinho à mesa, Sangar come tranquilamente. Aprecia cada mordida e cada gole de vinho e leite.
De repente, um barulho lá de fora. Estranhando, ele deixa o copo na mesa, se levanta e caminha até a porta. Olha para um lado, não vê nada demais... Olha para o outro: uma claridade vem da lateral da casa...
SANGAR
Mas o que será isso?...
Então ele sai da casa.

CENA 8: EXT. CASA DE SANGAR – QUINTAL – NOITE
Sangar está caminhando pelo quintal quando paralisa ao perceber a origem da claridade: um incêndio! Em seu celeiro!
SANGAR
Meu Deus!
Está transtornado.
SANGAR
Não!... Como?!
Então ele nota dois vultos próximos dali, dois homens. Soldados filisteus! Ambos acenam para ele, viram e somem na escuridão. Seu semblante mal consegue expressar raiva. Uma bola de fogo corre pelo quintal e ele vira: é uma ovelha... em chamas... correndo sem rumo.
Sangar então corre para tentar apagar as chamas. No incêndio do celeiro, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:


No próximo capítulo: Revoltado com o que fizeram com sua propriedade e motivado pela descoberta de Débora e Jaziel, Sangar toma uma providência definitiva em relação à opressão filisteia.







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