Débora
CAPÍTULO 06
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
baseada nos capítulos 3 a 5 do livro
de Juízes
FADE
IN:
CENA 1: EXT.
BETEL – RUA – DIA
De volta às ruas, Débora, junto aos
seus pais, conversa com Sangar e Jaziel, esse menos ferido que o outro.
DÉBORA
Jaziel, por
favor, me ajude! Me acompanhe! Preciso ir atrás de Lapidote! Ele saiu com o pai
não faz muito tempo!
TAMAR
Débora, já
disse que não! Os filisteus podem estar por perto ainda!
ELIAN
Eles estão
em todos os lugares.
DÉBORA
Mas os dois
foram embora, e sem explicar nada! Lapidote nem mesmo se despediu de mim! Eu
estou desesperada, eu... eu não sei o que aconteceu! Preciso entender, será que
ninguém compreende?!
Jaziel fica um tanto dividido.
DÉBORA
Não posso
deixar que partam sem nenhuma explicação!
TAMAR
Débora,
eles devem ter seus motivos!
DÉBORA
E é isso
que eu quero saber! O que os levou a fazer isso?! (pequena pausa) Por
favor, mãe! Por favor!
Tamar respira fundo...
TAMAR
Tudo bem.
Mas desde que não vá muito longe!
Não concordando, Elian balança a
cabeça.
ELIAN
(para
Jaziel) Proteja-a. Não deixa que ela, no calor da emoção, faça alguma
besteira.
Débora
encara o pai, claramente não gostou do que ele disse.
CENA 2:
EXT. DESERTO – DIA
Jaziel cavalga pelas paisagens
israelenses carregando, atrás de si, Débora. Passam por campos, paisagens
áridas, morros, vales, rios...
DÉBORA
(NAR.)
Com a ajuda
de meu amigo Jaziel, passei os 3 dias seguintes à procura de meu primeiro e
grande amor. A cada dia cavalgávamos mais distante e por terras mais
desconhecidas. Porém, os poucos sinais que encontramos ou eram confusos demais,
ou se perdiam com o vento.
Parados em pé no alto de um
desfiladeiro, Débora e Jaziel encaram o horizonte distante com semblante de
derrota.
JAZIEL
Fizemos
tudo que era possível, Débora. Eu sinto muito, mas está na hora de voltar para
casa.
DÉBORA
(triste) Tudo bem.
Tocado, ele se aproxima e a abraça.
JAZIEL
Eu vou orar
por eles. E vai ficar tudo bem.
DÉBORA
(olhos
marejados) Obrigada.
Eles se soltam e caminham de volta
para o cavalo. É quando Jaziel parece escutar um barulho.
JAZIEL
O que é
isso?
DÉBORA
(parando) O quê?
JAZIEL
Não
ouviu?... Parece... que veio de lá...
Ele aponta para um paredão de
pedras com algumas fendas e vai até lá; ela o acompanha.
Ao chegar no paredão, Jaziel apoia
as mãos e olha por um dos buracos: seus olhos arregalam e ele quase
desequilibra.
DÉBORA
O quê? O
que você viu, Jaziel?!
Débora então olha: atrás do
paredão, num terreno mais baixo, há um grande acampamento montado. Tendas de
tamanho comum estão armadas ao redor de uma central e maior que todas. O que
também impressiona a garota são os habitantes: soldados!
DÉBORA
Meu Deus,
são os filisteus!
JAZIEL
Shh! Podem
nos ouvir...
Jaziel olha com mais atenção.
DÉBORA
Por que é
que os filisteus estão acampados aqui?! Em nossas terras!...
JAZIEL
Fale baixo,
Débora...
Débora não entende. Jaziel então
olha para ela.
JAZIEL
Provavelmente
montaram uma base aqui... por ser mais fácil para recolher os impostos das
cidades dessa região.
DÉBORA
Será?...
JAZIEL
Bom, pode também
ser para mais coisas... Para nos intimidar... Quantos devem haver aí?
Eles então olham e tentam fazer uma
contagem grosseira.
JAZIEL
Bom,
somando com o lado que você contou, e considerando mais um por tenda, deve
haver nesse acampamento uns 500 homens.
Débora olha de novo para o
acampamento através do buraco na rocha.
DÉBORA
Se todo o
povo de nossa tribo Efraim se juntasse, poderíamos derrota-los.
JAZIEL
Não sei...
Eles são muito bem treinados, respiram guerra desde jovenzinhos.
DÉBORA
Se as
outras tribos se unissem a Efraim, assim como era nos tempos de Moisés e Josué,
poderíamos sim vencê-los, ainda que inferiores militarmente. E se tivéssemos um
período de tempo para treinarmos, não tenho dúvidas de que a vitória seria
nossa.
Jaziel fica pensando.
DÉBORA
E, maior do
que tudo isto, Jaziel, é o nosso Deus. Se Ele estivesse conosco, poderíamos
acabar com os nossos opressores assim como todos os juízes anteriores acabaram
com os algozes de suas épocas.
JAZIEL
Na minha
opinião precisamos é justamente de um novo juiz. Desde que Eúde morreu ninguém
se manifestou. O Senhor ainda não levantou
nenhum. Quando temos um juiz, nós nos voltamos para Deus mais
facilmente.
DÉBORA
Bom, só nos
resta pedir a Deus para que levante esse novo juiz. Mas, enquanto isso não
acontece, podemos montar e treinar um exército! Em alguns meses poderíamos ter
força o suficiente para acabar com todos os filisteus.
JAZIEL
Teríamos
que marchar até Gaza, a capital filisteia?
DÉBORA
Não. Essa
deve ser a base deles na opressão. Se destruirmos esse acampamento e
derrotarmos esses homens, a dominação acabará.
Eles se olham, sentem o peso da
possibilidade levantada por ela.
Então
se levantam e saem.
CENA 3:
INT. CASA DE TAMAR – COZINHA – DIA
O dia passa, a noite vem e amanhece
um novo dia.
Elian chega devagar à cozinha onde
Débora está sovando uma massa de pão.
ELIAN
Débora...
Débora o olha rapidamente e
continua o seu trabalho.
ELIAN
Eu... Eu
sinto muito... Lapidote era um bom rapaz, mas... talvez ele não fosse bom o
suficiente para você...
DÉBORA
Por que
está dizendo isso?
ELIAN
Um bom
rapaz não a abandonaria dessa forma, Débora.
DÉBORA
Deve haver
um motivo. Aliás, há! Misael não permitiu que Lapidote falasse. Eu só
não consigo imaginar o que poderia ser... Até o dia anterior estava tudo bem.
Quase tudo, na verdade, pois nesse dia ele já não veio me ver...
ELIAN
O melhor
que você pode fazer agora é esquecer, tentar não pensar. O tempo dará jeito de
apagar isso. E um dia você vai se encantar novamente por outro rapaz de Betel.
DÉBORA
(sovando a
massa e ignorando seu pai) Isso não deve ter a ver com Lapidote, mas com
algum problema envolvendo o senhor Misael. Quem sabe até com os filisteus. Ele
já veio fugindo da opressão... Se bem que nada encaixa com nada. Não sei, é frustrante!
Vou é orar para ser consolada, mas não vou deixar de pensar no meu namorado.
ELIAN
Débora,
você não pode mais trata-lo como namorado. Acabou.
Débora então para de sovar a massa
e encara o pai.
DÉBORA
O senhor
gosta disso? De saber, de falar isso?
ELIAN
(fingindo
tristeza) Não. Se a faz triste, também me faz.
Nesse instante Tamar desce a
escada.
TAMAR
Débora
ainda não está pronta?
ELIAN
(para
Débora) O horário que você combinou com o povo já está dando.
DÉBORA
Hum.
Débora guarda a massa e limpa as
mãos. Elian se aproxima.
ELIAN
Débora, quero
que saiba que eu concordo com você. Precisamos mesmo montar um exército e lutar
contra os filisteus!
Débora
faz que sim discretamente.
CENA 4:
EXT. BETEL – PRAÇA – DIA
Há um bom número de hebreus ali na
praça central da cidade. Comerciantes das ruas ao redor aproveitam para
anunciar seus produtos. Enquanto isso, Sangar, que está com Jaziel, passa a mão
em um ponto de sua costa.
SANGAR
Bem aqui é
onde mais incomoda...
JAZIEL
Minha costa
está toda dolorida... Ahn, só espero que Débora chegue logo.
SANGAR
O que será
que essa menina quer anunciar a todo o povo?
JAZIEL
Eu sei o
que é. Estávamos juntos quando ela viu.
SANGAR
“Viu”?
Jaziel olha para o lado: Débora
está chegando com Tamar e Elian. O povo para de conversar entre si e olha para
ela.
DÉBORA
Shalom!
Shalom a todos...
ALGUNS
Shalom.
DÉBORA
Primeiramente
gostaria de agradecê-los por terem atendido o meu pedido e vindo até aqui. Sei
que todos tem suas ocupações, mas prometo ser rápida. O assunto é de muita
importância.
O povo a olha atento.
DÉBORA
Apesar de
minha pouca idade, eu sinto a opressão dos inimigos como todos e sei da necessidade
que temos de liberdade, assim como vínhamos tendo há 80 anos até os filisteus
nos dominarem. E, se olharmos para trás, para as épocas dos juízes anteriores,
só há duas formas de nos libertamos: a primeira: abandonando os ídolos, a
ociosidade, voltando para o Deus único; e a segunda: (pequena pausa) lutando.
Se a primeira coisa for feita, a segunda terá sucesso.
Um burburinho surge entre as
pessoas e começa a aumentar. Alguns começam a falar mais alto, a rir...
HOMEM
Vai
brincar, menina!
HOMEM 2
Isso mesmo,
vai correr com seus amiguinhos!
Outros riem. Débora fica um tanto
nervosa.
DÉBORA
(alto e
firme) Enquanto vocês achavam que eu estava brincando, eu cavalgava
até uma terra distante, onde encontrei algo que jamais poderia imaginar: um
acampamento filisteu!
Mais murmúrios...
DÉBORA
Meu amigo
Jaziel está aí e pode confirmar!
HOMEM 3
Mentira! Estavam
era brincando! Ou criando histórias fantásticas! Coisas de crianças!
DÉBORA
Eu entendo
que os filisteus sempre nos fizeram acreditar que sua capital Gaza é uma
verdadeira fortaleza, com muros intransponíveis, armada até os dentes! Mas sua
maior força atualmente está em um mero acampamento, onde há pouco mais de 500
homens.
Murmúrios mais contidos...
DÉBORA
Apesar de
eles estarem armados, nós podemos nos juntar com as outras cidades! Gezer, Ai,
Afeque... Se não for suficiente, podemos chamar outras tribos! Judá, Dã,
Benjamim, Manassés! Um grande exército! Milhares de homens contra 500, 600
filisteus no máximo!
HOMEM
600
filisteus armados e tudo o que temos são paus e pedras!
DÉBORA
Nós temos o
maior poder que o universo poderia ter: Deus!
Com raiva, algumas pessoas viram as
costas e vão embora. Outros, rindo com zombaria, também saem.
HOMEM 2
Menina, pare
de desperdiçar o nosso tempo. Vai brincar, vai...
E sai.
MULHER
Menina da
sua idade tem é que trabalhar! Ajudar a mãe! Treinar pra cuidar da casa quando se
casar! E cuidar do marido!
A mulher, seguida de outros, deixa
a praça.
SANGAR
(para
Jaziel) Sua amiga tem razão, sabe? Tem toda a razão. Podemos
treinar por um tempo e depois ir com tudo contra os filisteus.
Porém, o povo todo dali vai embora.
Alguns ainda bradam palavras de ofensa contra a garota.
ELIAN
(intervindo) Chega!
Chega!
DÉBORA
(para o
povo indo embora) Vocês precisam querer a liberdade!!!
Elian e Tamar se aproximam mais.
TAMAR
Não
adianta, minha filha...
ELIAN
Não querem escutá-la.
DÉBORA
(para
Jaziel) O que eu preciso dizer para convencê-los?! Nem sofrendo querem
reagir!
Os
únicos que ficam ali com Débora é Tamar, Elian, Jaziel e Sangar. Todo o
restante vai embora.
CENA 5: EXT.
ACAMPAMENTO FILISTEU – DIA
Um soldado caminha ao lado do
Comandante pelo acampamento.
COMANDANTE
Eu não vou
conseguir esperar até o próximo mês para me divertir com aquele hebreu, (enojado)
tal de Sangar... Ele merece uma outra boa lição, e logo!
Ele para e encara o soldado.
COMANDANTE
Esse
maldito hebreu é um pastor, mora no lado de fora da cidade. Vá até sua
propriedade e queime parte de seus bens. E faça questão de ser visto pelo
hebreu! Que ele saiba que foi um de nós!
SOLDADO
Entendido,
senhor!
COMANDANTE
Vá!
O
soldado faz uma pequena reverência e sai apressadamente. O Comandante fica ali,
já se divertindo ao imaginar o acontecimento.
CENA 6:
INT. CASA DE TAMAR – COZINHA – NOITE
A noite cai...
Tamar, Elian e Débora estão
ajoelhados e de olhos fechados ao redor da mesa; ele está apresentando a
refeição em oração.
ELIAN
...até o
dia de amanhã. Amé--
DÉBORA
(interrompendo) Também
pedimos, Senhor, que possa amolecer o coração duro desse povo. O Teu
povo! Que eles possam voltar aos Teus caminhos e terem ânimo para lutarem pela
liberdade conquistada pelos nossos antepassados... Amém.
ELIAN,
TAMAR
Amém.
Eles
abrem os olhos e se levantam. Os pais se entreolham, e ela senta para comer.
CENA 7:
INT. CASA DE SANGAR – COZINHA – NOITE
Próximo da muralha de Betel, no
lado de fora, há uma pequena casa cujas portas e janelas estão abertas. Uma
claridade aconchegante vem de dentro.
Sentado sozinho à mesa, Sangar come
tranquilamente. Aprecia cada mordida e cada gole de vinho e leite.
De repente, um barulho lá de fora.
Estranhando, ele deixa o copo na mesa, se levanta e caminha até a porta. Olha
para um lado, não vê nada demais... Olha para o outro: uma claridade vem da
lateral da casa...
SANGAR
Mas o que
será isso?...
Então
ele sai da casa.
CENA 8:
EXT. CASA DE SANGAR – QUINTAL – NOITE
Sangar está caminhando pelo quintal
quando paralisa ao perceber a origem da claridade: um incêndio! Em seu celeiro!
SANGAR
Meu Deus!
Está transtornado.
SANGAR
Não!...
Como?!
Então ele nota dois vultos próximos
dali, dois homens. Soldados filisteus! Ambos acenam para ele, viram e somem na
escuridão. Seu semblante mal consegue expressar raiva. Uma bola de fogo corre
pelo quintal e ele vira: é uma ovelha... em chamas... correndo sem rumo.
Sangar então corre para tentar
apagar as chamas. No incêndio do celeiro, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Revoltado
com o que fizeram com sua propriedade e motivado pela descoberta de Débora e
Jaziel, Sangar toma uma providência definitiva em relação à opressão filisteia.
Obrigado pelo seu comentário!