Type Here to Get Search Results !

Primeira Impressão com o Senhor X - Crítica "Órfãos do Paraíso" - Programa 11


Saudações, queridos, bem-vindos ao Primeira Impressão desse dom-- Ops!

Sim, nessa semana infelizmente não pude aparecer no domingo devido a um problema técnico com meus equipamentos desde que cheguei aqui em meu planeta natal. Sim de novo, mancebos, a viagem foi um sucesso e o pouso não poderia ter sido mais perfeito. Porém, os equipamentos precisaram de um tempo e algumas adaptações com nossa avançada tecnologia para poderem funcionar sem problemas a 100.000 anos-luz de distância de onde foram projetados para funcionar. Sei que alguns ouviram boatos sobre o que aconteceu comigo, mas são apenas parcialmente verdadeiros. Mas o que importa é que está tudo resolvido.

Agora terei alguns dias de descanso e depois, junto ao meu advogado, preparei minha defesa para encarar o Conselho. Talvez alguns tenham percebido que já há alguns programas não tenho mencionado muito meu passado na Terra ou mesmo aqui, e isso por orientação de meu advogado. Vamos esperar a situação se resolver para que eu possa lhes contar mais do que aprontei em seu planeta tão atraente em cultura.

Mas agora  vamos à crítica dessa semana, que se trata da minissérie Órfãos do Paraíso, escrita por Rynaldo Nascimento e Weslley Vitoritti e exibida na WebTV. Confira a sinopse:

A obra conta a história do jovem Pedro, viciado em vídeo game e jogos online e que estuda em um colégio público do Rio de Janeiro. Sempre muito atento, ele tem ideias em relação à desigualdade social comum nos países capitalistas. Ultimamente resolveu assumir a fé islâmica, mas apenas para si mesmo, sem contar para os familiares. Porém, o jovem acaba sendo recrutado para lutar em favor da fé distorcida por meio de um profissional da sua escola, Hama, e embarca para o Oriente Médio. Neste mesmo dia, a fotógrafa Laís vai com o filho Enzo à praia e se vê no meio de um grande atentado terrorista”.

            À primeira vista de um leitor ocasional essa minissérie pode parecer algum tipo de remake de Órfãos da Terra, novela exibida na Globo e escrita por Thelma Guedes e Duca Rachid. Afinal, quem frequenta o Mundo Virtual sabe bem que basta uma obra estourar na TV que releituras (para não dizer cópias) pipocam aqui e acolá. Porém, a trama da obra em questão não tem nada a ver com a da telenovela, e o fato de ela ter sido originalmente exibida em 2016 enquanto Órfãos da Terra apenas em 2019 já põe uma pá de terra essa questão. Mas há algo sim que aproxima ambas produções: a abordagem de uma cultura do Oriente Médio. Nesse caso, a visão de um possível futuro mundial com base nos problemas e ameaças atuais.

            A trama que se sobressai nesse capítulo de estreia é a de Pedro, um jovem de 18 anos aliciado para um grupo de terroristas muçulmanos e que vai deixando para trás sua vida cotidiana no Rio de Janeiro em prol de sua nova e controversa fé. Apesar de um ato tão extremo como esse, de forma alguma o rapaz toma tal decisão precipitadamente. Na verdade ele nem mesmo está muito seguro quanto a tudo isso, mas, tal qual acontece nos Campos Movediços de meu planeta, é arrastado ainda mais para o fundo quando demonstra sinais de querer sair. E só esse caso demonstra o poder dramático que os autores empregam na narrativa. É muito comum vermos em obras do Mundo Virtual o peso do drama se perder quase que por completo por conta da falta de dilemas nos personagens ante suas decisões, ou seja, por falta de humanidade. É essa quem faz o herói pensar duas vezes antes de colocar o pé na estrada em busca da aventura.

            E se aqui aludo a clássica Jornada do Herói, não o faço à toa. Apesar de Pedro nessa estreia se assemelhar mais a um anti-herói, ou talvez com um vilão em construção, ou até mesmo um herói trágico, a estrutura do início de sua jornada tem por base a do Herói clássico, e talvez por isso a trama funcione tão bem. Esse tipo de arco tende a ser redondinho, familiar ao público, além de proporcionar identificação com o personagem por parte do público, mesmo ambos sendo de realidades muito diferentes.

            Apesar disso tudo, não é com Pedro que o capítulo abre, e sim com Laís presa no trânsito caótico. Porém, antes de a conhecermos, o texto faz uma incrível apresentação da sombria Rio de Janeiro de 2045. O esquema de quais elementos aparecem primeiro, do movimento da câmera (CAM), da descrição da paisagem acinzentada e da chuva pesada castigando a cidade já acende um alerta no leitor para que ele sinta que aquela não é a realidade que ele conhece, mas a de um futuro em que as coisas de fato deram muito errado. Toda essa composição mencionada acima faz se desenhar na mente do público cenários como os de Blade Runner, onde quase sempre é noite, movimentado, o clima é chuvoso e também onde paira no ar, de forma ininterrupta, uma áurea com origem em uma maligna força maior. Não que na Rio de Janeiro de Órfãos do Paraíso há megacorporações ou reis dominando tudo, mas é explícito que algo em algum momento do passado deu errado e que um mal está muito presente naquele mundo.

            E essa eficiência em descrições, tanto de cenários quanto de personagens, é apenas uma das características que possibilitam chamarmos esse capítulo de um perfeito roteiro, e de nível profissional. A ideia dos autores é realmente emular uma obra filmada na mente de quem lê, e o fazem com absoluta maestria. Podemos exemplificar isso ainda utilizando a ótima cena de abertura, onde a legenda não é inserida antes de toda a descrição, como muitos fazem, mas depois. Primeiro vemos todos os elementos daquele mundo distorcido, e só após ganhamos um nó na garganta com a revelação por parte da inserção da legenda: é um futuro não tão distante. Mas não para por aí: a forma como a câmera é descrita passeando pelos cenários, a clareza do local onde aqueles personagens estão inseridos... Tudo isso nos faz enxergar a minissérie como se ela de fato estivesse passando em uma tela à nossa frente. E coroando com estilo todo esse tratamento está a formatação do roteiro, que em nada deve às dos roteiros de emissoras e filmes cinematográficos.

            Claro que, apesar da boa trama, do já elogiado texto e dos ótimos diálogos (primorosos se compararmos à média do Mundo Virtual), o capítulo não é pura perfeição, e podemos constatar isso facilmente com o gigantesco número de personagens inseridos nesse 1° capítulo. E olha que o problema poderia ser muito maior caso a estreia fizesse como a maioria das obras criticadas anteriormente aqui no programa, que não tinham nenhuma ou quase nenhuma preocupação em pincelar a aparência de suas figuras, para que ao menos o leitor tivesse uma noção se aquele dito-cujo tem 8 ou 80 anos, se é negro ou branco, etc. O capítulo 01 de Órfãos do Paraíso, até em sintonia com a ideia de um roteiro audiovisual, insere cuidadosa e detalhadamente diversas características físicas de todos os seus personagens, sem deixar margem a dúvidas; porém, peca pelo excesso. E não é um ou dois personagens que ficam sem função alguma na trama. Não que eles não terão uma lá na frente, mas aqui, nessa estreia, não mostraram razão pra já estarem presentes. É o caso de Mikael, Mirela, Anthony, e alguns outros.

            O capítulo também se mostra um ótimo exemplo de ortografia e pontuação, apenas com erros pontuais e bem isolados. Também um problema isolado, mas mais grave, é a reação de Zilma, mãe de Pedro, ao encontrar uma mensagem e desenhos com representações violentas enquanto mexe nas coisas do filho. Não sei você, mancebo, mas acho um tanto irreal alguém mexer nas coisas de outro, encontrar desenhos e uma mensagem figurativa e já quase desmaiar por concluir instantaneamente que a pessoa é um terrorista. Diferente do que acontece no caso do comportamento de Pedro, faltou humanidade e também verossimilhança para essa situação de Zilma.

            Ao meu ver, Órfãos do Paraíso – ao menos a estreia – se mostra uma leitura obrigatória no meio do Mundo Virtual não necessariamente pela história e mensagem que quer passar, mas pela forma com que o faz, demonstrando da parte dos autores conhecimento e habilidade, mas, acima de tudo, comprometimento em fazer o melhor possível, não se contentando com o medíocre. Se nessa trama haverá alguém que ficará órfão de seu paraíso eu não sei e nem saberei, mas, a menos que as próximas webs se mostrem em um nível de qualidade acima do que tenho visto ultimamente, também estarei eu, por um bom tempo, órfão... de uma satisfatória estreia.




Minissérie:  Órfãos do Paraíso

Autores: Rynaldo Nascimento e Weslley Vitoritti com colaboração de João Carvalho Netto

Capítulos: 12

Emissora: WebTV

Clique aqui para ler o 1° capítulo

Saiba mais sobre a minissérie

    E essa foi nossa crítica de hoje. Antes de mais nada, gostaria de pedir a vocês que não percam o programa do próximo domingo, pois será Especial de Halloween, e teremos uma web de terror para analisar. Será que apenas o 1° capítulo/episódio dessa obra será capaz de me arrepiar? Veremos. Sinceramente, pouca coisa da Terra me arrepia mais que a Idade Média.

    Mas por hoje é isso. Vocês querem que eu critique a estreia de uma web do Mundo Virtual? É só pedirem abaixo. Perderam o programa anterior? Então cliquem aqui e vejam, está imperdível. Tenham uma boa semana, um bom descanso e um bom sucesso em seus afazeres. Até lá!

Postar um comentário

0 Comentários
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.