Saudações, mancebos, sejam
muito bem-vindos ao Primeira Impressão Especial de Halloween!
E então, como foi o dia 31
de outubro de vocês? Se fantasiaram de monstros, espíritos e criaturas
demoníacas? Festejaram e comeram até a fantasia de fantasma parecer mais a do Monstro
Marshmallow de Os Caça-Fantasmas? Ou preferiram se trancar em casa com medo das
bruxas cortando a lua cheia em suas vassouras? Medo mesmo teriam se tivessem
presenciado o que já presenciei, centenas de anos atrás, em algum lugar sem
futuro da Europa medieval. As decorações de Halloween eram um pouco diferentes:
no lugar das abóboras com rostos macabros esculpidos, cabeças de malfeitores. No
lugar dos espantalhos, psicopatas presos que ganhavam esse “benefício” por bom comportamento.
E substituindo as cantorias e danças, rituais de invocação de espíritos da floresta.
Sim, vi tudo isso e coisas estranhas realmente aconteceram ali, mas nem cabe eu
aqui lhes contar, o horário não permite.
Mas para o programa de hoje
separei uma produção em sintonia com essa época do ano. A crítica de hoje se
trata de Urban Legend: Slenderman, escrita por Jota Pê e exibida na WebTV.
Confira a sinopse:
“A psiquiatra Alana
Maxwell é chamada até um orfanato na Inglaterra, em 1967, para diagnosticar
duas irmãs acusadas de assassinato. Quando coisas anormais passam a acontecer,
ela descobre que crianças vêm desaparecendo através dos anos, vítimas de uma
suposta entidade chamada Slenderman. Ao tentar desvendar o que julga ser uma
grande farsa, Alana colocará em dúvida tudo aquilo que pensou acreditar até
então”.
No Cinema, por muitos anos o
terror foi visto com certo preconceito por parte da crítica especializada,
embora nunca tenha deixado de arrastar multidões para o escuro das salas. Mas também
o gênero sempre deu motivos para tal rejeição, com filmes insistindo e
reinsistindo em clichês como a casa abandonada e assombrada, o assassino em série,
os mancebos com os hormônios à flor da pele, o sangue esguichando mais que petróleo
de perfuração, a final girl e, claro, o famigerado jump scare, termo
desconhecido pelo grande público, mas que todos sabem bem do que se trata: uma mudança
ou aparição abrupta de imagem junto a um som alto, fazendo o público jogar a
pipoca no teto. Só mais recentemente é que tivemos, com mais expressividade, um
olhar diferenciado no gênero, com obras pretendendo entregar mais do que sustos
e sangue gratuito e tendo algo além a dizer, como é o caso de A Bruxa, Corra! e
Um Lugar Silencioso.
E vocês, mancebos, podem até
não serem críticos especializados de Cinema, e muito menos cineastas, mas se eu
lhes perguntar quais características todo filme de terror tem, certamente citarão,
entre outras, o clima frio, a fotografia acinzentada, a ambientação
claustrofóbica, a trilha sonora soturna; tudo alcançado por meio de técnicas cinematográficas.
Mas e quando o exemplar do gênero não é um filme, mas um livro? Será possível
uma obra escrita passar ao seu leitor a tensão que uma obra audiovisual pode
passar ao seu público?
Bom, a resposta é que
certamente isso é possível, mas é necessária uma habilidade muito maior por
parte do escritor. Olhem que irônico: o gênero que no Cinema até pouco tempo
era visto como algo barato e fácil de se realizar, na Literatura exige um
trabalho diferenciado para que o leitor não enxergue apenas letras pretas em um
fundo branco, mas sim todo um ambiente onde o perigo está à espreita. E é aí que
chegamos a essa série antológica de terror. Séries antológicas apresentam, a
cada episódio ou temporada, uma história diferente e totalmente independente,
mas com um tema em comum unindo-as; no caso, a cada temporada Urban Legend
pretende abordar uma lenda urbana diferente, e o Slenderman foi o escolhido
para estrelar a primeira leva de episódios. Bem, o Slenderman vírgula... Pois a
aparição do ser é quase nula nesse episódio de estreia, intitulado “Bem-vindo
ao Chateau”.
Alguns podem argumentar dizendo
que essa é a graça das histórias desse ser, que é em sua ausência e na iminência
de uma aparição surpresa que se constrói a bizarra tensão e a sensação de medo.
Não discordo, mas e quando a aparição da “coisa” é limitada ou à semelhança de
fotos que encontramos no Google, com ele ao fundo e desfocado, ou à uma exposição
muito grande, estando a metros dos personagens que estamos acompanhando? A primeira
forma eu entendo, é a base de como a lenda se formou, apesar de a situação se
repetir nesse episódio. Mas a segunda se trata do mesmíssimo erro que comete o
filme Slender Man – Pesadelo Sem Rosto: a exposição demasiada.
Parte da justificativa do
sucesso do Slenderman (ou Slender Man) em contos e jogos é a forma nebulosa com
que ele é abordado nessas mídias, nos fazendo questionar: “Será que é real?”. A
não-aparição da “coisa” é muito mais angustiante e perturbadora do que ele parado
em nossa frente, ou caminhando tranquilamente pelo gramado. “Ora, Sr. X, mas
você não disse que a aparição do Slender nesse episódio é quase nula?”. Sim, e
é. Tudo isso que falei é sobre as poucas vezes em que ele aparece, porque no
restante o leitor até se esquece que está lendo uma história sobre a lenda do
Slenderman.
Quando as irmãs Rosie e Lily,
de 13 e 11 anos respectivamente, chegam ao orfanato Chateau Marmont – lugar em
que o mal não fica na conta do sobrenatural, mas na das pessoas que ali
comandam – uma série de eventos bizarros começam a acontecer, mas nada que
liguemos diretamente à criatura esguia e sem rosto. De um lado uma jovem assassina
com surtos psicóticos, de outro uma aparente possessão que nos remete de imediato
ao filme O Exorcista, de 1973; certo, mas e o Slenderman? Tudo bem que depois um
desses 2 casos (sim, apenas 1) apresenta uma relação com ele, mas aí já é quase
fim do episódio de mais de 50 páginas.
E vejam bem, o problema não
está na abordagem desses dois casos que ocorrem em paralelo no orfanato, mas na
contradição entre título & proposta e entrega. A abordagem é sim muito boa,
as situações são relativamente inventivas, os diálogos tem vivacidade, os
personagens tem personalidades bem definidas, e a formatação, caprichadíssima,
deixa a leitura ainda mais agradável, mas é como se ao vermos o anúncio de um
bolo de chocolate trufado, nós o comprássemos e recebêssemos um bolo de abacaxi
ao creme com um caldinho de chocolate e uma ou outra trufa: ótimo, mas então anunciasse
o bolo de abacaxi ao creme com um caldinho de chocolate e uma ou outra trufa, e
não o de chocolate trufado.
Por fim, mancebos, voltamos à questão do início, sobre a capacidade de uma obra escrita nos deixar aterrorizados. A tensão que esse episódio me passou foi mínima, e apesar de ser esse um dos 2 maiores defeitos – o outro é a abordagem da criatura, sobre a qual já falamos –, é o que mais pesa no conjunto da obra, afinal, não compramos um drama ou um suspense, ou mesmo um terror de possessão ou de serial killer, mas um terror sobre o Slenderman; e isso, infelizmente, não tivemos... ao menos nessa estreia.
Série: Urban Legend: Slenderman
Autor: Jota Pê
Episódios: 10 (2 temporadas)
Emissora: WebTV
Clique aqui para ler o 1° episódio
Bem, bem, meus queridos. Agora vamos
responder os autores da web criticada na semana passada. Weslley Vitoritti, coautor
de Órfãos do Paraíso, não comentou na seção de comentários do programa, mas o
Felipe, minha mão direita, me enviou seu comentário feito no Facebook. Vejamos.
Imagina, mancebo, eu é quem agradeço por
você ser parte dessa equipe que me presentou com uma belíssima obra e também
pelo retorno, raro por parte dos autores aqui no programa. E mancebos, isso que
ele disse é algo importante para quem quer ler a minissérie: ela foi
originalmente exibida na WebTV, mas de fato atualmente se encontra no catálogo
da Megapro. Se vocês clicarem no link do 1° capítulo, que lá deixei, serão
redirecionados para lá. No mais, obrigado, Weslley, e sucesso para vocês também!
Quem
também comentou nessa ocasião foi o Emanuel Nascimento, e o Fe não soube dizer
se ele é o autor principal da obra – Rynaldo Nascimento – usando seu verdadeiro
nome ou então um pseudônimo, ou outra pessoa, um leitor. E ele disse o seguinte:
De qualquer forma, Emanuel,
muito obrigado pela presença, leitura e retorno. É tudo feito com carinho, e para
vocês. E também gostaria de dizer que, apesar de não respondê-los, mancebos,
sempre estou lendo seus comentários e agradeço muitíssimo a todos, sem exceção!
Também gostaria de lhes
pedir hoje que não peçam mais webs para serem criticadas, pois a lista para
esse ano já está fechada. Agradeço todas as sugestões e pedidos, mas já tenho a
relação de todas as próximas estreias para analisar aqui. Agora caso peçam, a
webnovela ou websérie vai vir apenas em 2021, isso se lá alcançarmos a graça de
chegar.
Mas por hoje é só. O que acharam do programa? E da websérie analisada? Comentem tudo. Perderam o programa da semana passada, que foi na terça-feira? Então basta clicarem aqui e lerem, está maravilhoso! Se cuidem, não permitam que a 2° onda dessa pandemia alcance a região de vocês, e até o próximo domingo!
Obrigado pelo seu comentário!